quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

LAB Moda Curitiba investe nas profissionalização


O nome vem da ideia de experimentação, onde o espaço se converte em um lugar de investigação coletiva. O LAB Moda Curitiba reúne jovens estilistas e outros profissionais da área com uma vontade em comum: aprimorar conhecimentos sobre o setor e apresentar trabalhos.

O projeto, criado pelo empresário Júnior Gabardo e pelo fotógrafo Daniel Sorrentino, envolve cursos, workshops e geração de conteúdo para web através de editoriais de moda, gravura, vídeo e outras manifestações artísticas.

A estilista Ana Marri ajusta os detalhes da roupa que participa hoje do flying fashion, às 12h, no calçadão da Rua XV.

Pretendendo reforçar e consolidar o cenário da moda paranaense, o LAB vem se unir a outros eventos já consolidados como o Paraná Business Collection e o alternativo Mega Bazar Lúdica.

A originalidade dos organizadores se reflete na abertura dos trabalhos, que terá uma intervenção pública, hoje, no calçadão da Rua XV de Novembro, no centro de Curitiba. O evento culminará na Semana de Moda, que entre os dias 26 e 29 de abril, irá ocupar o Museu Oscar Niemeyer.

Ao mesmo tempo em que transmite conhecimentos empresariais aos novos estilistas, o evento incentiva o desenvolvimento de uma forma de trabalho mais conceitual.

Para o fotógrafo, o movimento da moda está forte na cidade, mas ainda há carências justamente quando se fala em espaço para criadores. “Aqui os estilistas podem fazer experimentações. Ter respaldo sobre o seu trabalho”.

“Queremos juntar forças para fazer um trabalho cada vez melhor. Várias cabeças juntas funcionam melhor, seja na questão econômica ou na criativa”, define Sorrentino. Neste momento, o grupo reúne 84 alunos entre estilistas, fotógrafos, produtores, publicitários, cabeleireiros e maquiadores.

Intervenção


Em pleno horário de almoço, um dos pontos mais movimentados de Curitiba será invadido pela ação que envolve 20 estilistas. Quem estiver ao meio-dia passando em frente ao chafariz da rua XV terá uma surpresa: verá um grupo de modelos empunhando balões com os croquis dos looks que estão participando da interferência.

As modelos vão caminhar em meio à multidão rumo à Praça Osório, onde vai acontecer uma troca de roupa. A ação termina em frente ao Bondinho. Ao final, os balões serão soltos, com a proposta de “lançar a moda aos ares de Curitiba”, afirma Júnior Gabardo.

Como participar


O mês de abril está recheado de ações envolvendo moda e arte. São intervenções em espaços públicos e desfiles dos estilistas paranaenses no Museu Oscar Niemeyer e um balcão de negócios e programação cultural.

Para participar é preciso morar em Curitiba e ter empresa legalmente organizada. “Esta é um das principais questões para entrar no competitivo mercado da moda. Por isso, está acontecendo o curso em módulos, para estruturar a administração, finanças e normais legais. Eles não são somente criadores, mas também empresários e a nossa proposta é orientá-los neste sentido”, ressalta Sorrentino.

Júnior Gabardo afirma que a iniciativa é mais uma para o setor e que não compete com os demais eventos de moda que ocorrem na cidade. “Nossa proposta é diferente em todo o processo. E este é um mercado em expansão, com muito espaço para crescer”.

Serviço

LAB Moda Curitiba. As inscrições para as palestras podem ser feitas pelo site www.labmodacuritiba.com.br ou pelo telefone (41) 8407.3393.

Publicado originalmente no jornal O Estado do Paraná.

domingo, 23 de janeiro de 2011

"O que eu reivindico é a liberdade de expressão


Brincos, unhas pintadas, salto, saia. Enquanto penteia os cabelos, alinhados num comportado chanel, o cartunista Laerte se prepara para mais um dia de trabalho. Suas impagáveis tirinhas circulam nos principais jornais brasileiros, mas o que poucos sabem é que este sujeito bem-sucedido, beirando os 60, bom pai, está se permitindo vivenciar um lado seu que até poucos anos era um mistério.

Em sua busca pelo autoconhecimento, Laerte aderiu ao crossdresser, homens que se vestem com roupas de mulher sem que isso esteja relacionado ao homossexualismo. A opção deixa a maior parte das pessoas pasmas. Mas o cartunista não tem a pretensão de mudar de sexo. Ele também não é um travesti e nem gosta muito de ficar martelando definições.

Laerte encara o crossdresser como transposição de limites, uma vontade de vivenciar e compreender os códigos femininos. “É a necessidade de uma revolução masculina, de questionar a obrigatoriedade de certos hábitos e se libertar do código de gênero. O que eu reivindico é a liberdade de expressão”.

Quando caminha pelas ruas de São Paulo, cidade onde nasceu no inverno de 1951, Laerte experimenta as mais diversas reações. “Existem atitudes de apoio e empatia, mas também quem fique incomodado”.

Apesar disso, o cartunista reconhece os benefícios de sua opção. “O que eu estou trabalhando dentro de mim está sendo um processo muito rico. Tem a ver com autoaceitação. É uma coisa muito natural, a descoberta de algo em mim que antes não podia se expressar”, reflete o cartunista, que já tem 40 anos de carreira e tiras como Piratas do Tietê e Overman publicadas em jornais como Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo.

A descoberta

A coisa toda começou vagarosamente e, aos poucos, foi se revelando em sinais sutis. Primeiro, um de seus personagens, o Hugo, decidiu “se montar”. Arranjou vestido, batom, salto alto e se jogou no mundo. Laerte assumiu nos quadrinhos suas vontades e inquietações. Foi aí que ele percebeu que havia uma lacuna, um desejo que até então se negava vivenciar às claras.

O cartunista sabe que conceitos sobre gênero são muito profundos. O que vestem e os padrões de comportamento esperados de um homem e de uma mulher são, via de regra, irretocáveis. Na prática, quem adere ao crossdresser passar por situações que vão da indiferença ao espanto e mesmo à hostilidade. Mas, para Laerte, o tempo é um aliado fiel que só faz clarear a percepção de que a principal ameaça não é a que vem de fora. “Quando o sujeito se aceita como de fato é, tudo se resolve mais facilmente”.

Saia e salto

As roupas e acessórios femininos ganharam espaço nos armários de Laerte aos poucos. Primeiro veio a intimidade com brincos, colares e unhas pintadas. Depois o caminho se abriu e ampliou as possibilidades para um look totalmente feminino, incluindo o corte de cabelo chanel.

Passar para um mundo onde a variedade de roupas transcende o espectro “jeans+camiseta+tênis” é uma das melhores descobertas nos últimos tempos, comemora o cartunista. Ao adentrar no universo feminino, Laerte é detalhista na escolha das peças. “Tem as roupas que você gosta e as que lhe caem bem. Gosto de experimentar e sentir se aquilo me representa”.

Muito além do gênero

Para o psicanalista Geraldo Eustáquio, adeptos do crossdresser são pessoas que gostam de usar coisas socialmente destinadas ao outro gênero. O psicanalista esclarece que ser gay ou não é outra questão. “Não existe uma relação direta”. Na visão dele, “a sociedade deve se fundamentar pelo respeito aos direitos das pessoas. Qualquer forma de preconceito só alimenta o retrocesso social”.

Adeptos também em Curitiba

Entre os adeptos locais, há os que adotam nomes femininos, como a Juliana. E, já que estamos falando com o lado feminino do camarada, vamos suprimir o nome masculino de batismo. Para ela, o crossdresser se resume em breves palavras: “é como um hobby”. Assim como Laerte, Juliana não é homossexual nem travesti. “Ela”, inclusive, tem uma namorada que a acompanha nos encontros mensais onde se reúnem homens que gostam de usar roupas femininas, maquiagens e demais badulaques. Em Curitiba, o grupo de 25 pessoas é bem unido: organiza festas descontraídas, comemora Natal e Réveillon e faz também as reuniões de “sapos” - é assim que eles se chamam quando estão vestidos de “homem”.

São quase infinitas as histórias envolvendo situações bizarras encaradas por eles quando estão “montados”. Certa vez quatro adeptos foram parados pela polícia ao entrar na contramão quando voltavam de uma festa. Os policiais, espantados com o que viram, acabaram deixando passar a infração.

Quem acaba levando vantagem com tudo isso são as namoradas e esposas. Programas como olhar vitrines, comprar roupas, maquiagens e sapatos passaram a ter a companhia dos namorados e maridos. Juliana, que trabalha como empresária autônoma, descobriu um novo prazer: “Agora eu me interesso mais pelo universo feminino, vou com minha namorada nas lojas e dou mil pitacos. Ajudo nas compras e ainda aproveito para ver algo para mim”.

Publicado originalmente no jornal O Estado do Paraná.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Marília Vargas lança CD na Oficina de Música


Marília Vargas canta quando sente encanto, reverberando sentimentos e emoções em uma voz que se projeta em todos os sentidos. Ela nasceu em Curitiba e hoje é uma cidadã do mundo: mora na Suíça há 15 anos, tem casa em São Paulo, já visitou 63 países, mas volta à capital mais fria do Brasil sempre que pode. O próximo retorno será nesta semana, quando ela lança o seu segundo CD solo, Tempo breve que passaste, de modinhas brasileiras.

O recital com um repertório inédito de compositores paranaenses terá ainda a presença de Ricardo Kanji (flautas) e Guilherme de Camargo (violão e viola) em um dos eventos que integra a programação da Oficina de Música na noite desta terça-feira, dia 18.

Quando Marília, Guilherme e Ricardo sentaram juntos para a escolha do que estaria no trabalho, o que arrebatou primeiro foi o ciclo de doze árias Marília de Dirceu, sobre poemas de Tomás Antonio Gonzaga, “a parte central do disco” realça a soprano. A obra foi musicada dentro do contexto poético e musical da modinha portuguesa do final do século 18, pouco gravada no País.

Como músicas de salão do final do século 19, as modinhas do trio tem arranjos com pianoforte, flautas, violoncelos, guitarras e violões diversos. “É um disco colorido”, diz ela. Também estão registradas no CD obras do modinheiro luso-brasileiro e peças instrumentais, como o Vilão do Tom (Codex Gulbenkian) e o Landum (recolhido por Von Martius).

Abrindo o leque

Há três anos, Marília decidiu voltar as atenções para uma discografia solo mais intensa. Depois de gravar o primeiro disco, Todo amor desta terra, canções paranaenses (2009), a vontade era de abrir o leque da música brasileira. “As modinhas tinham a ver com o estilo mais de época com o qual eu trabalho”.

Mais pinceladas da alma do que desenho linear da melodia, a cantora dá um tom leve - sem ser superficial - à obra como um todo: “É um disco bem gostoso. A melancolia de Marília de Dirceu contrasta com o brejeiro e o humor refinado das outras músicas”.

O gosto pelas viagens, “sou cigana, viajo por trabalho e por prazer”, faz de Marília uma pessoa profundamente interessada pela cultura e história de outros países. Cita o Vietnã, a Tailândia e a China como os preferidos, mas admite que tem verdadeira adoração pelo último. Sempre que pode percorre as ruas à procura de discos de música local. “Gosto de colher coisas para a minha vida. Aprender a ouvir e ver o bonito ali”.

Aliás, a beleza é um adjetivo que move as ações de Marília. Mesmo quando ouve algo em um idioma que não conhece, procura enxergar com os ouvidos o significado das canções. “Quando canto a palavra amor, vou colorir ela com a minha voz, como meu canto de maneira que, mesmo quem não entenda a língua tenha a sensação do que essa palavra transmite”.

Publicada originalmente no jornal O Estado do Paraná.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

De olhos e ouvidos abertos


Vagarosamente as vibrações sonoras ocupam cada milímetro da cidade, espaços se convertem em pura música e as mentes se voltam ao movimento incessante moldado por instrumentos e vozes. É janeiro, mês que marca o início do ano em alto e bom som: começa a 29.ª Oficina de Música de Curitiba.

Prestes a completar trinta verões, a oficina é exemplo de um evento que nunca deixou de ser referência tanto para músicos quanto para o público. Este ano quem estiver na cidade terá o prazer de absorver o trabalho da Orquestra do Algarve (Portugal) e do Fry Street Quartet (Estados Unidos).

Estes são integrantes da primeira fase, que celebra a Música Erudita e Antiga - do dia 9 ao 19. Nesta etapa também será lembrado o centenário de morte do compositor austríaco Gustav Mahler.

Na segunda etapa - de 20 a 29 -músicos como Zeca Baleiro, Edu Lobo e Orquestra À Base de Corda celebram a Música Popular Brasileira ao lado de Toninho Ferrragutti, Ricardo Takahashi, Maira Morais, Adriana Schincariol, Raiff Dantas Barreto, Zé Alexandre Carvalho, Paquito de Rivera e Leny Andrade. Ainda há o núcleo dedicado à música latino-americana, que reúne alguns dos grandes nomes da música do Peru, Bolívia, Colômbia e Venezuela.

A novidade este ano é o Festival Praias, que transformam as areias de Matinhos e Ipanema em palco para grupos como Serenô, MUV e Orquestra Paranaense de Viola Caipira.

Na procura por ampliar as fronteiras artísticas, o evento ainda terá lançamento de livros, exibições de filmes e bate-papos mediados pelo crítico musical e jornalista Roberto Mugiatti.

Janete Andrade, diretora-geral do evento promovido pela Fundação Cultural de Curitiba, sente que a oficina é um caldeirão fervilhante de ideias. “Professores, alunos e público convivem em aulas, ensaios e apresentações durante vinte dias. Isso gera a qualidade e garante a diversidade do evento”.

A variedade é garantida com o grupo residente deste ano, a portuguesa Orquestra do Algarve. Mesmo com origem portuguesa, na formação há músicos de outras nacionalidades - principalmente do Leste Europeu e de países como Bulgária e Romênia. Janete ressalta a importância da participação do grupo, que vêm de uma forte tradição no ensino de instrumentos de cordas.

Filmes que dialogam com o universo musical serão exibidos no Sesc Paço da Liberdade. Na pauta de programação estão as óperas Carmen (1983) do espanhol Carlos Saura e A Flauta Mágica (1975), do sueco Ingmar Bergman.

Como em anos anteriores, haverá um núcleo de música e tecnologia, desta vez com a participação de Mário Manga (oficina de trilhas) e Christian Lohr (professional situations), da Alemanha.

O núcleo de música latino-americana terá oficinas de instrumentos típicos, como cajon peruano, cuatro, maracás e harpa colombiana. Ministram as oficinas estão Rafael Santa Cruz (Peru), Edmar Castañeda (Colômbia), Aquiles Baez (Venezuela) e Álvaro Montenegro (Bolívia).

Concerto de Abertura


Com o tema “Celebrando as Comunidades”, a cerimônia de abertura da oficina reúne diversos músicos convidados mostrando a diversidade de culturas que fazem parte da história de Curitiba. Entre eles, Olga Kiun (Rússia), Quinteto de Sopros da Orquestra do Algarve (Portugal), Piotr Banasik (Polônia), Fernando Rocha (Brasil), Fry Street Quartet (EUA) e o Coro da Camerata Antiqua de Curitiba, com regência de Dario Sotelo.O concerto é hoje, às 20h30, no Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto -Guairão.

Serviço

29.ª Oficina de Música de Curitiba. De 9 e 29 de janeiro de 2011. Inscrições pelo site www.oficinademusica.org.br. R$ 100 (um curso), R$ 150 (dois cursos), R$ 180 (três cursos distribuídos nas duas fases), R$ 50 (minioficinas), R$ 15 (cursos infantis) e R$ 10 (cursos nas Ruas da Cidadania). Concerto e Cerimônia de Abertura. Teatro Guaíra (Pça. Santos Andrade, s/n.º), (41) 3304-7900. Dia 9, às 20h30. R$15 ou R$7,50 + 1kg de alimento não perecível. Entrada gratuita para alunos da Oficina. Mais informações: www.oficinademusica.org.br.