domingo, 6 de fevereiro de 2011

A magia da verde e rosa


“Mangueira, teu cenário é uma beleza que a natureza criou”, o samba em exaltação à Estação Primeira de Mangueira traduz em versos musicais um sentimento difícil de explicar. A casa de Jamelão, Tia Zélia, Cartola, Alcione, Chico Buarque é grande: dentro dela cabem exaltados integrantes da escola, crianças que nasceram ao som do samba, moradores da comunidade e quem mais chegar.

Na fachada do grande barracão - colado ao pé do Morro da Mangueira, na zona norte do Rio de Janeiro - o verde e rosa marcam posição. A rua em frente é abrigo para dezenas de barraquinhas com os mais variados quitutes, que vão de cachorro quente a ovo em conserva. Em uma dela está lavrado: “Quem é do mar não enjoa”. Para estômagos fortes.

Mas, como diria Chico Buarque, entrar na Estação Primeira é como pisar em um chão de Esmeraldas. Ou como proclama o hino de exaltação composto por ele: “Todo mundo te conhece ao longe, pelo som dos seus tamborins e o rufar do seu tambor”. Chegou a Mangueira.

A dualidade de cores faz do cenário um complemento para a cortina do palco, na verdade uma enorme bandeira da escola. Um conjunto de samba embala o primeiro momento da noite.

Do camarote, Alcione cumprimenta fãs, bate papo com amigos, mas os olhos permanecem atentos à frente, miram o show. A paixão pela Mangueira é evidente: O rosa colore o vestido longo e duas rosas adornam os volumosos cabelos de Marrom.

Devagar, Alcione caminha em direção ao palco e canta um pedido: “Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar, o morro foi feito de samba, de samba pra gente sambar”. A outra é Meu ébano: “É! você é um negão de tirar o chapéu , não posso dar mole senão você créu!”.

Mesas de plástico organizadas simbolicamente em uma fila deixam livre o estratégico espaço ao centro da quadra. É lá que se dança. Ao redor, a maioria das cadeiras está vazia - uma em especial chama a atenção.

À frente, do lado direito do palco um senhor está sozinho, admirando. Ele aparenta a serenidade de quem se sente em casa. Olhando, calcula-se que o senhor usando chapéu tenha uns 80 e poucos anos. Às costas da camisa que ostenta as cores da Escola está designado: “Diretoria”.

Velha guarda. Aos seus lados e sua frente estão todos os passistas, uns dançam freneticamente enquanto outros posam para fotografias. Umas dez ou quinze pessoas pareciam turistas, que, como tal, ficavam maravilhados com tudo ali.

A certa altura percebe-se uma movimentação comum, deslocamento que ao mesmo tempo expande e internaliza. Da escada ao lado do palco descem mestre-sala e porta-bandeira, caminhando rumo ao meio do espaço.

Aquele senhor de chapéu levanta e acompanha, agora portando um apito no peito. Eles se unem aos outros integrantes da velha guarda, e também a passistas e sambistas do morro para abrir os trabalhos da noite.

No ápice, ouve-se o primeiro rufar dos tambores. Os passos movem-se sem se darem conta, tomados pela onda que emana de todos os lados. Na hora ninguém escapa: com a benção de Cartola e Jamelão a Bateria da Mangueira mostra porque veio ao mundo. A intensidade se multiplica no instante em que o telhado do barracão se abre, deixando à vista o céu cheio de estrelas.

É indispensável muito samba no pé e sangue na veia para acompanhar o intenso mover de corpos. A música guia uma catarse coletiva que capta todas as boas vibrações do mundo. Sem esperar o carnaval chegar, essa gente mostra que o samba é lá na Mangueira.

Publicado na última edição impressa do jornal O Estado do Paraná, no domingo dia 6.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Os sons do Brasil


Mônica Salmaso sempre gostou do mais elementar na música, aquilo que a faz explorar os mais diferentes aspectos da cultura brasileira. A cantora paulista caminha movida por essa paixão desde o primeiro disco, Afro-sambas (1995), em duo com o violonista Paulo Bellinati, relançado recentemente pela gravadora Biscoito Fino. De lá para cá, lançou seis discos, todos profundamente envolvidos com a musicalidade verde-e-amarela.

Agora, ao lado do pianista Nelson Ayres e do saxofonista e flautista Teco Cardoso, ela está em processo de construção do próximo disco, Alma lírica brasileira, que deve ficar pronto ainda no primeiro semestre deste ano.

Para os mais ansiosos em ouvir esse novo trabalho, há uma chance: hoje, amanhã e domingo, o trio sobe ao palco intimista do Teatro da Caixa para mais uma apresentação.

Não é pretensão dizer que a união de Mônica, Nelson e Teco (que vem desde 98) tem algo de especial. Algo que transcende os movimentos automáticos e cria uma ligação orgânica com a obra. Essa sensação se solidificou, ressalta a cantora, no disco que vai ser lançado. “A convivência musical muito intensa foi criando a identidade do grupo”.

Quando repassa como se manifestou a ideia que desembocou no projeto, Mônica lembra que o impulso emergiu a partir de Noites de gala, Samba na rua (2007). O CD recria composições de Chico Buarque, com participação do grupo Pau Brasil, do qual fazem parte Teco e Nelson.

Isso porque, em 2008, o grupo precisou fazer uma adaptação nos arranjos para o show, que seria levado a cabo por um trio e não mais pelo sexteto original que gravou o disco.

A maior parcela das músicas, inclusive, é dedicada a Chico, que se fará presente através de sucessos como Construção e três canções de O grande circo místico, compostas em conjunto com Edu Lobo para o Balé Teatro Guaíra. São elas Ciranda da bailarina, A história de Lily Braun e Beatriz. Para a cantora, este show fala muito do Brasil de maneira elegante, mas também divertida.

O repertório, define a cantora, é bem variado com vários estilos que convivem bem juntos. Estão no disco, por exemplo, Heitor Villa-Lobos, Paulo Vanzolini e Zé Miguel Wisnik.

Ela acha difícil comparar a outro álbum da carreira, mas pode-se dizer que ele tem a variedade do IaIá (2004), onde Dorival Caymmi convive harmonicamente com Tom Zé.

Com 22 anos de sua vida dedicadas à música, Mônica vivencia um bom momento da carreira. Para ela, o processo criativo que experimenta com este novo disco revela uma maior maturidade profissional. “Agora sinto mais prazer porque tenho mais segurança. Não estou tão preocupada em ser perfeita. Tudo está mais orgânico”.

A confiança adquirida ao longo dos anos trouxe a ela mais confiança tanto no palco quanto no estúdio. “Antes a tensão estava muito presente e até atrapalhava um pouco. Agora tenho o domínio da linguagem e está tudo mais divertido porque acontece mais naturalmente. É bem essa sensação que queremos mostrar no show”.

Serviço

Mônica Salmaso Trio. Hoje, amanhã, às 21h e domingo, às 19h. Teatro da Caixa. Rua Conselheiro Laurindo, 280. Ingressos a R$ 20, na bilheteria. Informações: 2118-5111.

Publicado originalmente no jornal O Estado do Paraná.

Originalidade sonora




Gentileza do Amor. Este é o sugestivo nome que partiu da união das bandas Gentileza e Do Amor para o show de hoje no Atacama, em Curitiba. O nome, conta Heitor Humberto, surgiu naturalmente graças à semelhança das palavras.

Agora, as duas se unem para exprimir na música a afetividade e a sensibilidade que as nomeiam. O combinado já havia sido experimentado em setembro do ano passado em São Paulo, onde foi muito bem recebido.

Por aqui eles também tocaram juntos, mas ainda sem essa nomenclatura. “O show foi maravilhoso, guardamos muitas boas lembranças”, recorda o baterista Marcelo Callado.

Os grupos surgiram em duas capitais bem diferentes: a Gentileza nasceu em Curitiba e a Do Amor no Rio de Janeiro. Mas o destino fez que desse encontro se revelasse muitas semelhanças, a começar pelos nomes.

“São nomes muito positivos”, ressalta Marcelo. Mas o principal está no fato das duas se guiarem movidas em fazer música sem se importar com horizontes comerciais.

Talvez por isso conseguiram conquistar um público carente de uma originalidade sonora, que vai na contra-corrente do que dita o mercado. As bandas unem pontas musicais aparentemente excludentes entre si.

Na Do Amor, o rock e ritmos brasileiros convivem harmonicamente. A Gentileza traz, de um lado o rock e de outro o samba, a valsa e música do leste europeu. Deste encontro surge a promessa de uma noite agitada com uma miscelânea musical que revela a versatilidade da nova música brasileira.

O repertório vai incluir canções que estão nos discos de estreia de ambas. A banda curitibana lançou o seu álbum em 2009 e já tem as músicas cantadas em coro nos shows.

O do Do Amor, lançado em 2010, esteve entre os melhores do ano de diversas publicações, como a revista Rolling Stone. Mas a noite também terá novidades: os dois grupos ainda vão tocar músicas inéditas.

Gentileza


A Gentileza é umas das bandas de maior destaque da cena musical curitibana e conta com um público fiel em todas as suas apresentações. A busca pela inovação e por novos horizontes sonoros sempre foram características do sexteto.

Assim como o Do Amor, os paranaenses também passeiam por vários estilos, costurando valsa, música caipira, rock, samba, bolero, sonoridades do leste europeu, entre outros.

Violino, concertina, cavaquinho, viola caipira, naipe de saxofone e trompete, além de baixo, bateria e guitarra são alguns dos 16 instrumentos tocados durante suas apresentações.

A banda é formada por Heitor Humberto (voz, guitarra, violino, cavaquinho), Emílio Mercuri (guitarra, viola caipira e voz), Garapa Perin (baixo, concertina e voz), Diogo Fernandes (bateria), Artur Lipori (trompete e guitarra) e Tetê Fontoura (saxofone e teclado).

Do Amor

Do Amor é uma banda parcialmente conhecida por muitos. Marcelo Callado (bateria) e Ricardo Dias Gomes (baixo) integram a Banda Cê, que vem acompanhando Caetano Veloso há três anos. Gabriel Bubu é o baixista do Los Hermanos.

Formado há quatro anos, o grupo carioca acaba de lançar o seu festejado primeiro álbum. Produzido por Chico Neves (que já trabalhou com Lenine, Paralamas do Sucesso, O Rappa e Skank), o debute do quarteto traz 14 faixas que mostram um trabalho repleto de referências dos mais distintos e variados estilos.

A banda traz referências que vão do carimbó ao rock com a maior naturalidade, passando democraticamente pelo indie, axé, dub, guitarrada e heavy metal. Essa mistura sonora se revela uma grande festa e ganha força com músicas como Pepeu baixou em mim e Isso é carimbó.

Conheça as bandas

www.myspace.com/doamor
www.myspace.com/gentileza

Publicado originalmente no jornal O Estado do Paraná.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

LAB Moda Curitiba investe nas profissionalização


O nome vem da ideia de experimentação, onde o espaço se converte em um lugar de investigação coletiva. O LAB Moda Curitiba reúne jovens estilistas e outros profissionais da área com uma vontade em comum: aprimorar conhecimentos sobre o setor e apresentar trabalhos.

O projeto, criado pelo empresário Júnior Gabardo e pelo fotógrafo Daniel Sorrentino, envolve cursos, workshops e geração de conteúdo para web através de editoriais de moda, gravura, vídeo e outras manifestações artísticas.

A estilista Ana Marri ajusta os detalhes da roupa que participa hoje do flying fashion, às 12h, no calçadão da Rua XV.

Pretendendo reforçar e consolidar o cenário da moda paranaense, o LAB vem se unir a outros eventos já consolidados como o Paraná Business Collection e o alternativo Mega Bazar Lúdica.

A originalidade dos organizadores se reflete na abertura dos trabalhos, que terá uma intervenção pública, hoje, no calçadão da Rua XV de Novembro, no centro de Curitiba. O evento culminará na Semana de Moda, que entre os dias 26 e 29 de abril, irá ocupar o Museu Oscar Niemeyer.

Ao mesmo tempo em que transmite conhecimentos empresariais aos novos estilistas, o evento incentiva o desenvolvimento de uma forma de trabalho mais conceitual.

Para o fotógrafo, o movimento da moda está forte na cidade, mas ainda há carências justamente quando se fala em espaço para criadores. “Aqui os estilistas podem fazer experimentações. Ter respaldo sobre o seu trabalho”.

“Queremos juntar forças para fazer um trabalho cada vez melhor. Várias cabeças juntas funcionam melhor, seja na questão econômica ou na criativa”, define Sorrentino. Neste momento, o grupo reúne 84 alunos entre estilistas, fotógrafos, produtores, publicitários, cabeleireiros e maquiadores.

Intervenção


Em pleno horário de almoço, um dos pontos mais movimentados de Curitiba será invadido pela ação que envolve 20 estilistas. Quem estiver ao meio-dia passando em frente ao chafariz da rua XV terá uma surpresa: verá um grupo de modelos empunhando balões com os croquis dos looks que estão participando da interferência.

As modelos vão caminhar em meio à multidão rumo à Praça Osório, onde vai acontecer uma troca de roupa. A ação termina em frente ao Bondinho. Ao final, os balões serão soltos, com a proposta de “lançar a moda aos ares de Curitiba”, afirma Júnior Gabardo.

Como participar


O mês de abril está recheado de ações envolvendo moda e arte. São intervenções em espaços públicos e desfiles dos estilistas paranaenses no Museu Oscar Niemeyer e um balcão de negócios e programação cultural.

Para participar é preciso morar em Curitiba e ter empresa legalmente organizada. “Esta é um das principais questões para entrar no competitivo mercado da moda. Por isso, está acontecendo o curso em módulos, para estruturar a administração, finanças e normais legais. Eles não são somente criadores, mas também empresários e a nossa proposta é orientá-los neste sentido”, ressalta Sorrentino.

Júnior Gabardo afirma que a iniciativa é mais uma para o setor e que não compete com os demais eventos de moda que ocorrem na cidade. “Nossa proposta é diferente em todo o processo. E este é um mercado em expansão, com muito espaço para crescer”.

Serviço

LAB Moda Curitiba. As inscrições para as palestras podem ser feitas pelo site www.labmodacuritiba.com.br ou pelo telefone (41) 8407.3393.

Publicado originalmente no jornal O Estado do Paraná.

domingo, 23 de janeiro de 2011

"O que eu reivindico é a liberdade de expressão


Brincos, unhas pintadas, salto, saia. Enquanto penteia os cabelos, alinhados num comportado chanel, o cartunista Laerte se prepara para mais um dia de trabalho. Suas impagáveis tirinhas circulam nos principais jornais brasileiros, mas o que poucos sabem é que este sujeito bem-sucedido, beirando os 60, bom pai, está se permitindo vivenciar um lado seu que até poucos anos era um mistério.

Em sua busca pelo autoconhecimento, Laerte aderiu ao crossdresser, homens que se vestem com roupas de mulher sem que isso esteja relacionado ao homossexualismo. A opção deixa a maior parte das pessoas pasmas. Mas o cartunista não tem a pretensão de mudar de sexo. Ele também não é um travesti e nem gosta muito de ficar martelando definições.

Laerte encara o crossdresser como transposição de limites, uma vontade de vivenciar e compreender os códigos femininos. “É a necessidade de uma revolução masculina, de questionar a obrigatoriedade de certos hábitos e se libertar do código de gênero. O que eu reivindico é a liberdade de expressão”.

Quando caminha pelas ruas de São Paulo, cidade onde nasceu no inverno de 1951, Laerte experimenta as mais diversas reações. “Existem atitudes de apoio e empatia, mas também quem fique incomodado”.

Apesar disso, o cartunista reconhece os benefícios de sua opção. “O que eu estou trabalhando dentro de mim está sendo um processo muito rico. Tem a ver com autoaceitação. É uma coisa muito natural, a descoberta de algo em mim que antes não podia se expressar”, reflete o cartunista, que já tem 40 anos de carreira e tiras como Piratas do Tietê e Overman publicadas em jornais como Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo.

A descoberta

A coisa toda começou vagarosamente e, aos poucos, foi se revelando em sinais sutis. Primeiro, um de seus personagens, o Hugo, decidiu “se montar”. Arranjou vestido, batom, salto alto e se jogou no mundo. Laerte assumiu nos quadrinhos suas vontades e inquietações. Foi aí que ele percebeu que havia uma lacuna, um desejo que até então se negava vivenciar às claras.

O cartunista sabe que conceitos sobre gênero são muito profundos. O que vestem e os padrões de comportamento esperados de um homem e de uma mulher são, via de regra, irretocáveis. Na prática, quem adere ao crossdresser passar por situações que vão da indiferença ao espanto e mesmo à hostilidade. Mas, para Laerte, o tempo é um aliado fiel que só faz clarear a percepção de que a principal ameaça não é a que vem de fora. “Quando o sujeito se aceita como de fato é, tudo se resolve mais facilmente”.

Saia e salto

As roupas e acessórios femininos ganharam espaço nos armários de Laerte aos poucos. Primeiro veio a intimidade com brincos, colares e unhas pintadas. Depois o caminho se abriu e ampliou as possibilidades para um look totalmente feminino, incluindo o corte de cabelo chanel.

Passar para um mundo onde a variedade de roupas transcende o espectro “jeans+camiseta+tênis” é uma das melhores descobertas nos últimos tempos, comemora o cartunista. Ao adentrar no universo feminino, Laerte é detalhista na escolha das peças. “Tem as roupas que você gosta e as que lhe caem bem. Gosto de experimentar e sentir se aquilo me representa”.

Muito além do gênero

Para o psicanalista Geraldo Eustáquio, adeptos do crossdresser são pessoas que gostam de usar coisas socialmente destinadas ao outro gênero. O psicanalista esclarece que ser gay ou não é outra questão. “Não existe uma relação direta”. Na visão dele, “a sociedade deve se fundamentar pelo respeito aos direitos das pessoas. Qualquer forma de preconceito só alimenta o retrocesso social”.

Adeptos também em Curitiba

Entre os adeptos locais, há os que adotam nomes femininos, como a Juliana. E, já que estamos falando com o lado feminino do camarada, vamos suprimir o nome masculino de batismo. Para ela, o crossdresser se resume em breves palavras: “é como um hobby”. Assim como Laerte, Juliana não é homossexual nem travesti. “Ela”, inclusive, tem uma namorada que a acompanha nos encontros mensais onde se reúnem homens que gostam de usar roupas femininas, maquiagens e demais badulaques. Em Curitiba, o grupo de 25 pessoas é bem unido: organiza festas descontraídas, comemora Natal e Réveillon e faz também as reuniões de “sapos” - é assim que eles se chamam quando estão vestidos de “homem”.

São quase infinitas as histórias envolvendo situações bizarras encaradas por eles quando estão “montados”. Certa vez quatro adeptos foram parados pela polícia ao entrar na contramão quando voltavam de uma festa. Os policiais, espantados com o que viram, acabaram deixando passar a infração.

Quem acaba levando vantagem com tudo isso são as namoradas e esposas. Programas como olhar vitrines, comprar roupas, maquiagens e sapatos passaram a ter a companhia dos namorados e maridos. Juliana, que trabalha como empresária autônoma, descobriu um novo prazer: “Agora eu me interesso mais pelo universo feminino, vou com minha namorada nas lojas e dou mil pitacos. Ajudo nas compras e ainda aproveito para ver algo para mim”.

Publicado originalmente no jornal O Estado do Paraná.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Marília Vargas lança CD na Oficina de Música


Marília Vargas canta quando sente encanto, reverberando sentimentos e emoções em uma voz que se projeta em todos os sentidos. Ela nasceu em Curitiba e hoje é uma cidadã do mundo: mora na Suíça há 15 anos, tem casa em São Paulo, já visitou 63 países, mas volta à capital mais fria do Brasil sempre que pode. O próximo retorno será nesta semana, quando ela lança o seu segundo CD solo, Tempo breve que passaste, de modinhas brasileiras.

O recital com um repertório inédito de compositores paranaenses terá ainda a presença de Ricardo Kanji (flautas) e Guilherme de Camargo (violão e viola) em um dos eventos que integra a programação da Oficina de Música na noite desta terça-feira, dia 18.

Quando Marília, Guilherme e Ricardo sentaram juntos para a escolha do que estaria no trabalho, o que arrebatou primeiro foi o ciclo de doze árias Marília de Dirceu, sobre poemas de Tomás Antonio Gonzaga, “a parte central do disco” realça a soprano. A obra foi musicada dentro do contexto poético e musical da modinha portuguesa do final do século 18, pouco gravada no País.

Como músicas de salão do final do século 19, as modinhas do trio tem arranjos com pianoforte, flautas, violoncelos, guitarras e violões diversos. “É um disco colorido”, diz ela. Também estão registradas no CD obras do modinheiro luso-brasileiro e peças instrumentais, como o Vilão do Tom (Codex Gulbenkian) e o Landum (recolhido por Von Martius).

Abrindo o leque

Há três anos, Marília decidiu voltar as atenções para uma discografia solo mais intensa. Depois de gravar o primeiro disco, Todo amor desta terra, canções paranaenses (2009), a vontade era de abrir o leque da música brasileira. “As modinhas tinham a ver com o estilo mais de época com o qual eu trabalho”.

Mais pinceladas da alma do que desenho linear da melodia, a cantora dá um tom leve - sem ser superficial - à obra como um todo: “É um disco bem gostoso. A melancolia de Marília de Dirceu contrasta com o brejeiro e o humor refinado das outras músicas”.

O gosto pelas viagens, “sou cigana, viajo por trabalho e por prazer”, faz de Marília uma pessoa profundamente interessada pela cultura e história de outros países. Cita o Vietnã, a Tailândia e a China como os preferidos, mas admite que tem verdadeira adoração pelo último. Sempre que pode percorre as ruas à procura de discos de música local. “Gosto de colher coisas para a minha vida. Aprender a ouvir e ver o bonito ali”.

Aliás, a beleza é um adjetivo que move as ações de Marília. Mesmo quando ouve algo em um idioma que não conhece, procura enxergar com os ouvidos o significado das canções. “Quando canto a palavra amor, vou colorir ela com a minha voz, como meu canto de maneira que, mesmo quem não entenda a língua tenha a sensação do que essa palavra transmite”.

Publicada originalmente no jornal O Estado do Paraná.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

De olhos e ouvidos abertos


Vagarosamente as vibrações sonoras ocupam cada milímetro da cidade, espaços se convertem em pura música e as mentes se voltam ao movimento incessante moldado por instrumentos e vozes. É janeiro, mês que marca o início do ano em alto e bom som: começa a 29.ª Oficina de Música de Curitiba.

Prestes a completar trinta verões, a oficina é exemplo de um evento que nunca deixou de ser referência tanto para músicos quanto para o público. Este ano quem estiver na cidade terá o prazer de absorver o trabalho da Orquestra do Algarve (Portugal) e do Fry Street Quartet (Estados Unidos).

Estes são integrantes da primeira fase, que celebra a Música Erudita e Antiga - do dia 9 ao 19. Nesta etapa também será lembrado o centenário de morte do compositor austríaco Gustav Mahler.

Na segunda etapa - de 20 a 29 -músicos como Zeca Baleiro, Edu Lobo e Orquestra À Base de Corda celebram a Música Popular Brasileira ao lado de Toninho Ferrragutti, Ricardo Takahashi, Maira Morais, Adriana Schincariol, Raiff Dantas Barreto, Zé Alexandre Carvalho, Paquito de Rivera e Leny Andrade. Ainda há o núcleo dedicado à música latino-americana, que reúne alguns dos grandes nomes da música do Peru, Bolívia, Colômbia e Venezuela.

A novidade este ano é o Festival Praias, que transformam as areias de Matinhos e Ipanema em palco para grupos como Serenô, MUV e Orquestra Paranaense de Viola Caipira.

Na procura por ampliar as fronteiras artísticas, o evento ainda terá lançamento de livros, exibições de filmes e bate-papos mediados pelo crítico musical e jornalista Roberto Mugiatti.

Janete Andrade, diretora-geral do evento promovido pela Fundação Cultural de Curitiba, sente que a oficina é um caldeirão fervilhante de ideias. “Professores, alunos e público convivem em aulas, ensaios e apresentações durante vinte dias. Isso gera a qualidade e garante a diversidade do evento”.

A variedade é garantida com o grupo residente deste ano, a portuguesa Orquestra do Algarve. Mesmo com origem portuguesa, na formação há músicos de outras nacionalidades - principalmente do Leste Europeu e de países como Bulgária e Romênia. Janete ressalta a importância da participação do grupo, que vêm de uma forte tradição no ensino de instrumentos de cordas.

Filmes que dialogam com o universo musical serão exibidos no Sesc Paço da Liberdade. Na pauta de programação estão as óperas Carmen (1983) do espanhol Carlos Saura e A Flauta Mágica (1975), do sueco Ingmar Bergman.

Como em anos anteriores, haverá um núcleo de música e tecnologia, desta vez com a participação de Mário Manga (oficina de trilhas) e Christian Lohr (professional situations), da Alemanha.

O núcleo de música latino-americana terá oficinas de instrumentos típicos, como cajon peruano, cuatro, maracás e harpa colombiana. Ministram as oficinas estão Rafael Santa Cruz (Peru), Edmar Castañeda (Colômbia), Aquiles Baez (Venezuela) e Álvaro Montenegro (Bolívia).

Concerto de Abertura


Com o tema “Celebrando as Comunidades”, a cerimônia de abertura da oficina reúne diversos músicos convidados mostrando a diversidade de culturas que fazem parte da história de Curitiba. Entre eles, Olga Kiun (Rússia), Quinteto de Sopros da Orquestra do Algarve (Portugal), Piotr Banasik (Polônia), Fernando Rocha (Brasil), Fry Street Quartet (EUA) e o Coro da Camerata Antiqua de Curitiba, com regência de Dario Sotelo.O concerto é hoje, às 20h30, no Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto -Guairão.

Serviço

29.ª Oficina de Música de Curitiba. De 9 e 29 de janeiro de 2011. Inscrições pelo site www.oficinademusica.org.br. R$ 100 (um curso), R$ 150 (dois cursos), R$ 180 (três cursos distribuídos nas duas fases), R$ 50 (minioficinas), R$ 15 (cursos infantis) e R$ 10 (cursos nas Ruas da Cidadania). Concerto e Cerimônia de Abertura. Teatro Guaíra (Pça. Santos Andrade, s/n.º), (41) 3304-7900. Dia 9, às 20h30. R$15 ou R$7,50 + 1kg de alimento não perecível. Entrada gratuita para alunos da Oficina. Mais informações: www.oficinademusica.org.br.