domingo, 30 de maio de 2010

MAIS PERGUNTAS QUE RESPOSTAS


Se você um dia, andando pela rua, receber de algum desconhecido um pequeno envelope colorido e, ao abrir, descobrir poemas e frases publicitárias estampadas em papel adesivo, estará compartilhando de uma das ações do coletivo Mofo Zero.

O Recontextualizações afetivas é uma das micro-ações propostas pelos artistas Arthur do Carmo, Lidia Sanae Ueta e Luana Navarro. Chegamos à casa da Luana numa quarta-feira, uma das poucas manhãs livres da artista.

Enquanto elabora projetos para leis de incentivo - o que lhe ocupa boa parte do dia - ela organiza exposições individuais e ainda acumula dois cursos acadêmicos: especialização em história da arte e graduação em filosofia, isso depois de ter cursado jornalismo.

Procurando atuar ativamente no mundo, Luana busca sempre na imagem fotográfica o suporte para a sua obra. Ao mesmo tempo, é também um resgate da prática que a conduziu efetivamente para as artes visuais.

Na fotografia, Luana aponta a relação entre o corpo e a cidade como outro interesse recorrente, inscrito em trabalhos como Corpo urbano e Microrresistências.

A escolha de entrar para a trupe dos aspirantes a jornalistas ela não julga mais equivocada, ao contrário, consegue visualizar reflexos da experiência convergindo para um ponto comum tanto no seu trabalho individual quanto no coletivo. No Mofo Zero, o discurso da grande mídia é questionado e deslocado para outros suportes,que permitem uma re-significação dessas informações.

É o caso de Despublicidade, onde frases publicitárias são deslocadas para espaços públicos, e Transamazônica - Imaginários compartilhados, desenvolvido com incentivo da Funarte Artes Visuais 2009, que questiona o imaginário criado a partir das publicidades veiculadas pela revista Realidade, no início da década de 70, sobre a Rodovia Transamazônica.

Consciente de que produzir um trabalho artístico hoje não está mais ligado à inspiração ou técnica, Luana não está à procura de respostas, mas de propor questionamentos.

Como foi a experiência com o projeto Imaginários compartilhados?

Apesar da prévia visualização dos eventos propostos na elaboração do projeto enviado a FUNARTE, eles foram criações no ato de realizá-los. Isso foi muito importante, pois envolveu uma abertura nossa à pesquisa, à produção e ao diálogo de mão dupla, ou de mão múltipla (como foi o caso da realização das oficinas e da ação de envio de postais onde 29 criadores, contando conosco, estavam em diálogo).
Este projeto, tanto para mim quanto para o Arthur não se encerrou no momento em que pegamos o caminho de volta para casa. Foram ao todo mais de 940 minutos de gravações audiovisuais, entre depoimentos, entrevistas, cenas, acontecimentos, participações nossas em eventos locais, nas quais ainda trabalhamos, além das quase 3.000 fotografias e registros em áudio.
Parte disto já está reunido em uma série de trabalhos que faz parte do DVD Imaginários compartilhados em fase de distribuição. No nosso blog (imaginarioscompartilhados.wordpress.com) também está todo o desenvolvimento do trabalho com vídeos, imagens e textos.

Que lugar a fotografia ocupa em sua vida?

O lugar da inquietação. Eu comecei a fotografar na faculdade de jornalismo e logo nas primeiras aulas de fotografia me dei conta que era isso o que me interessava no curso e era isso o que eu queria fazer.
Claro que mais tarde percebi que o fotojornalismo não tinha nada a ver comigo, e que o que eu buscava era a fotografia enquanto prática artística. Aliás, os meus trabalhos todos partem da imagem fotográfica, mesmo quando os finalizo em outros suportes o meu primeiro experimento sempre é fotográfico.

Como ter participado do curso no Núcleo de Estudos de Fotografia determinou o seu pensamento sobre arte hoje?

O Núcleo, que é coordenado pela Milla Jung, foi um ponto muito importante na minha formação, foi lá que comecei a pensar a imagem e não apenas produzir imagens.
Eu acho que acompanhei uma mudança muito importante no Nef, porque logo que eu comecei a participar dos cursos e a trabalhar lá a Milla tinha recentemente entrado no mestrado em Artes Visuais e ela começou a compartilhar suas novas referências o que para mim foi importante porque comecei a pensar outras possibilidades do trabalho artístico.
Me dei conta que podia por exemplo experimentar outros suportes, deixar para trás o campo da fotografia encerrada em si mesma e me relacionar com um campo mais aberto.

Em torno de que questões se organiza o coletivo Mofo Zero?

Até agora os nossos trabalhos partiram principalmente de questões relacionadas ao mass-media. Não há uma pesquisa plástica no que produzimos, mas sim um interesse em gerar questões, acho que isso é o principal.
Acreditamos que as ferramentas de trabalho do artista se fazem necessárias a partir das problemáticas colocadas pelos trabalhos desenvolvidos e não o contrário.

Como o estudo da filosofia está se relacionando com a sua atividade artística?

Estudando arte me dei conta de que frequentemente eu acabava caindo em referências que partiam da filosofia, e eu ficava muito angustiada por não ter uma base de leitura suficiente para entender determinados conceitos, que claro estavam teoricamente no campo filosófico e não artístico, foi aí que resolvi prestar o vestibular da UFPR. A filosofia é muito instigante assim como a arte. Não tenho pretensões de trabalhar diretamente no campo filosófico, meu interesse é continuar pensando arte.

Quais as suas principais referências?

Acho que na realidade as pessoas que estão por perto são as referencias mais importantes, por isso creio que a Milla Jung, o Felipe Prando e a Anuschka Lemos, que juntos formaram o grupo de trabalho Escapatórias, sem dúvida nenhuma são uma referência para mim.

Agora dos artistas consagrados, o Bas Jan Ader e o Felix Gonzáles-Torres me tocam muito, me emocionam. E recentemente a artista guatemalteca Regina José Galindo me despertou especial interesse com suas performances e ações.

Conheça mais sobre o trabalho de Luana Navarro:

www.luananavarro.com
www.imaginarioscompartilhados.wordpress.com
www.mofozero.wordpress.com

por PAULA MELECH
fotos DANIEL CARON
publicada originalmente no jornal O Estado do Paraná.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Mínimo-Múltiplo-Comum


Um verso de Fliperama, música lançada em 1992 no álbum The hips of tradition, sugeriu o título do novo trabalho de Tom Zé, O pirulito da ciência. Gravado em CD e DVD pela Biscoito Fino, o disco é a súmula da carreira de um dos mais inovadores músicos brasileiros, considerado o “pai da invenção” pela revista americana Rolling Stone.

“Está frio aí em Curitiba?” pergunta Tom Zé logo que pega o gancho do outro lado da linha para a entrevista. Sim. Mas a noite gelada certamente vai ficar do lado de fora do Teatro da Caixa durante o show, que será apresentado amanhã, sábado e domingo.

Se tratando de Tom Zé, mesmo o resgate do passado pode parecer a concepção de uma obra inédita. O pirulito da ciência, gravado ao vivo em São Paulo no ano passado com direção de Charles Gavin (ex-Titãs), retoma mais de 40 anos de música, que cobre sua produção de 1968 (São São Paulo meu amor) a 2008 (João nos tribunais).

Acompanhado da banda formada por Lauro Léllis na bateria, Cristina Carneiro no teclado, Daniel Maia na guitarra, Renato Léllis no baixo, Jarbas Maria na percussão e a vocalista Luanda, o show retrata as canções que se popularizaram, além daquelas que marcam suas decisões de percurso e escolhas estéticas.

Inicialmente “com um pé atrás”, Tom acabou topando com carinho a ideia de um trabalho que sintetizasse a sua obra. A proposta partiu do ex-baterista do Titãs, que pré-selecionou 50 músicas para depois, em conjunto com Tom Zé, chegar a 25 canções, gravadas no DVD. No CD, mais enxuto, as 16 faixas mantém os diálogos gravados ao vivo durante o show. O resultado é uma boa síntese da criação.

No palco, a cenografia propositalmente caótica assinada por Laura Andreatto se harmoniza com o figurino performático. Tom Zé usa macacões, saias e Parangolés - espécie de capa que só mostra plenamente suas cores, formas e texturas a partir dos movimentos de quem o veste. O Parangolé, criação de Hélio Oiticica, sintetiza a estética da performance: uma pintura viva e ambulante, uma escultura móvel.

O músico, que completa 74 anos em outubro, sabe da importância da imagem que a música adquire no palco e de como atua no processo global de sua obra. “O meu trabalho não termina na canção, mas no palco que é a representação dela. Gosto de terminar o show antes da plateia cansar, manter a dosagem com o espírito de divertimento ainda presente”.

Percurso


Tom Zé é formado pela Universidade de Música da Bahia, onde começou a experimentação musical, mesclando a música erudita e de vanguarda ao regional e popular, além de incluir sons inusitados como liquidificadores e máquinas de escrever em suas canções.

Com Caetano Veloso e Gilberto Gil, ajudou a criar o movimento tropicalista e caiu no ostracismo no momento em que seus companheiros assumiam a frente da música popular brasileira.

O mundo conheceu Tom por meio de David Byrne, líder do Talking Heads, que o contratou para sua gravadora, a Luaka Bop. Os discos foram um sucesso, com críticas entusiasmadas na imprensa mundial. Lá foram lançados The best of Tom Zé, The hips of tradition, Com defeito de fabricação e Post-modern platôs (Platões pós-modernos), além de remixes de canções por músicos jovens como Sean Lennon e Amon Tobin.

Serviço

Tom Zé - O pirulito da ciência. Amanhã e sábado às 21h e domingo às 19h, no Teatro da Caixa (Rua Conselheiro Laurindo, 280, Centro - Curitiba). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia -conforme legislação e clientes Caixa). Bilheteria: (41) 2118-5111 (de terça a sexta, das 12 às 19h, sábado e domingo, das 16 às 19h).

por PAULA MELECH
foto MARCELO ROSSI
publicado originalmente no jornal O Estado do Paraná.

domingo, 23 de maio de 2010

Os matizes de um jovem artista


Todos os dias ele sai do Alto da XV e percorre rapidamente a cidade guiado por certos deveres da profissão escolhida. Diego Marchioro desperta como um dos produtores mais versáteis do momento, qualidade que o faz encabeçar uma infinidade de projetos, nem parece que tem apenas 22 anos. Mas talvez a pouca idade seja justamente o segredo para conseguir se desdobrar entre tantas atividades distintas.

O pensamento desperto revela o porquê de Diego ter lúcida a escolha do ofício de ator e produtor. Aos 17 anos, ele - que para os amigos atende por Di - encarou o desafio de atuar e produzir a peça O longo caminho, onde iniciou a profícua parceria com Edson Bueno. O diretor foi convidado a comandar a encenação do espetáculo. Simultaneamente, o trabalho selou o contato criativo com o Grupo Delírio, liderado pelo diretor.

Hoje, os seus dias são ocupados quase integralmente com os projetos da Delírio. No momento, Diego atua na montagem Kafka - um sono mais profundo do que a morte, que também produz, ao mesmo tempo em que tenta alavancar projetos de sua própria produtora, a Rumo Empreendimentos Culturais. É lá que ele exerce a vontade de produzir outras vertentes artísticas, como dança contemporânea, música e audiovisual.

Entre um trabalho e outro, Diego sempre se permite respirar o frescor de outros ares. Por anos, esteve produzindo a desCompanhia de dança, dirigida por Cíntia Napoli e recentemente enfrentou o frio das ruas curitibanas para encarnar um travesti na peça Amoradores de rua, encenada no pátio da Reitoria da UFPR.

Guiado pela intuição e sempre acreditando nas possibilidades da concretização das ideias, Diego corre, mas não perde o prumo. O espetáculo A vida como ela é, uma homenagem a Nelson Rodrigues com adaptação e direção de Edson Bueno, estreou com sucesso em Curitiba, circula agora pelo interior do Paraná e São Paulo, e volta à capital para nova temporada em agosto.

A parceria com Edson continua na nova montagem, Metaformose, sobre a obra de Paulo Leminski. A peça, que estreia em setembro, experimenta a quebra da quarta-parede seguindo a linha de O Evangelho segundo São Mateus.

O pouco tempo livre de Diego foi suficiente para a conversa render uma infinidade de historias de um jovem artista curitibano.

O Estado: Como aconteceu sua parceria com Edson Bueno?

Diego Marchioro - Nossa parceria começou com minha carreira em 2004 e a decisão de seguir o ofício de ator. Neste ano resolvi atuar e produzir independentemente o espetáculo O longo caminho que vai de zero a ene, do dramaturgo Tchimochenco Webi. Com o texto guardado há alguns anos e muita vontade, procurei o diretor que fazia o teatro que mais me instigava. O Edson, sempre solícito, me recebeu e encontrei um parceiro que além de topar a minha iniciativa, criou um novo texto que passou a se chamar O longo caminho... estreando dois anos depois, em 2006. De lá para cá, desempenhei diversas funções no Grupo Delírio, de divulgador, operador de som a assistência de direção e em 2007 assumi a direção de produção.

O Estado: Como você concilia o seu trabalho de ator com o de produtor?

DM - Sempre produzi meus projetos. Constitui minha produtora em 2007 e concilio com a produção da Delírio, onde também trabalho como ator. São dois ofícios bem complexos que demandam muita dedicação e estudo para serem desempenhados. Me estresso um pouco, mas também tenho muito prazer em ver realizado um projeto artístico. Acompanho o trabalho desde a descrição no papel até sua apresentação ao público. Penso que cada artista deve saber gerir o seu trabalho, fazê-lo ser viabilizado e executado. Então como produtor e ator tenho a oportunidade de participar de todas as etapas de criação, produção e execução de uma obra e me apropriar de seu todo.

O Estado: De que maneira a empresa Rumo atua na área cultural?

DM - A Rumo vem com a necessidade que tenho de produzir e mesclar diferentes áreas artísticas. Já produzimos teatro, dança contemporânea, música, audiovisual e mantemos a produção da Delírio. Buscamos procurar novos parceiros e instituições para viabilizarmos os projetos, assim não ficarmos restritos apenas a editais e leis, mas também mantemos parcerias com empresas que são agentes diretos na realização da cultura.

O Estado: Como você lida com a diferença entre produzir projetos com verbas maiores e os menores?

DM - Maiores ou menores é sempre muito difícil conseguirmos os subsídios para a realização da cultura, sejam eles governamentais ou patrocínios diretos. Temos sempre que ficar ligados em editais, festivais e novas maneiras para darmos continuidade aos espetáculos. Fato é que quanto menores os orçamentos mais restrita fica a liberdade artística para a criação, busco sempre parcerias com empresas para que possamos manter a qualidade.

O Estado: Como é para você estar com peças diferentes acontecendo em um mesmo espaço de tempo?

DM - Ouvi a maravilhosa Dira Paes dizer esses dias que ser ator é ser como uma estação de trem, internamente ser ator é ser sempre um lugar de passagem. Realizar diferentes peças é um aprendizado, onde se misturam autoconhecimento, técnica e um canal direto com as emoções.

O Estado: Sua última peça, Amoradores de rua, acontecia em um espaço público. Quais as diferenças entre atuar no teatro e na rua?

DM - Vivi com o Amoradores, uma experiência completamente nova. Nunca tinha realizado um trabalho na rua e, neste caso, também sobre a rua. Me entreguei completamente a pesquisa. Uma das palavras que foram nosso lema no espetáculo foi "liberdade", procuramos uma forma livre de fazer aquele teatro e levantar aquelas questões. A principal diferença que vejo é a possibilidade que a rua nos traz de alcance, poder me comunicar e atingir diferentes camadas da comunidade até mesmo aqueles que nunca foram a uma sala de espetáculo.

O Estado: Quais as suas influências?

DM - Cada vez mais parto de um estímulo corporal em minhas criações, as diversas possibilidades que o corpo apresenta e encadeia, a dança. A interpretação é um desafio, a influência é a vida, o estímulo criativo de cada trabalho. No teatro, Enrique Diaz, Zé Celso, Fernanda Montenegro, Cibele Forjaz, Juliana Galdino, Edson Bueno, entre tantos.... No cinema me inspiram Almodóvar, Tim Burton, Tarantino, Luchino Visconti, Truffaut, Tarkoviski e tantos outros. Na literatura, Julio Cortázar, Calderon de La barca, Teneense Willians, Nelson Rodrigues, Paulo Leminski.

por PAULA MELECH
foto CICIRO BACK
originalmente publicada no jornal O Estado do Paraná.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

NO PAÍS DE ROGÉRIA


Por acreditar que a persistência é uma das virtudes capazes de tornar sonho realidade, a cantora Rogéria Holtz cita a frase da poetisa Alice Ruiz: "Quando está difícil de conseguir alguma coisa é sinal que você tem que desistir ou insistir ainda mais". O pensamento exemplifica o seu posicionamento diante da vida.

Rogéria toma partido do conceito para levar encanto (e canto) a tudo o que faz. As canções que saem da garganta são de músicos e poetas como Alice Ruiz, Itamar Assumpção, Waltel Branco e Alzira Espíndola entre tantos outros. A voz entoa canções gravadas nos discos Acorda e No país de Alice, uma homenagem à poetisa curitibana.

Quem ouve essa voz talvez possa pensar que a música tenha sido sempre uma certeza na vida de Rogéria. De certa maneira sim, já que ela esteve ligada aos instrumentos desde pequena, influenciada pelos pais e irmãos, mas as curvas do caminho quase a desviaram do trajeto.

Rogéria trabalhou como comunicadora visual na extinta loja HM depois de cursar a faculdade de desenho industrial. Mas ela sentia que faltava alguma coisa. Esse sentimento se revelou simbolicamente em cima de um palco: a ligação com a música apareceu repentinamente e causou um reflexo súbito e incontrolável. "Eu comecei a chorar, me senti mal não fazendo aquilo".

Ela percebeu que estava fora do lugar e foi retomar o que era seu. Depois de trabalhar em rádios e na televisão, cantou no Vocal Brasileirão, lugar que considera um divisor de mares. Foi de lá que apareceu a primeira oportunidade de fazer um show solo, no projeto Terça Brasileira do Teatro Paiol.

O conceito, que já vinha sendo apurando há tempos, foi empregado no show. A ideia era unir instrumentos de cordas com um repertório que incluía Egberto Gismonti, Beto Guedes e Rita Lee, além de paranaenses como Alice Ruiz, sua principal parceira. O trabalho foi bem recebido e rendeu-lhe elogios de figurões da MPB como Roberto Menescau, que cada vez que conhecia alguém "do sul", perguntava: "Você conhece a Rogéria Holtz?".

Buscando sempre a qualidade do que é novo, a cantora está envolvida na elaboração do terceiro disco. O nome ainda é segredo, mas a ideia é encontrar uma sonoridade "mais brasileira", valorizando ao mesmo tempo o canto e o instrumental, a exemplo de Cássia Eller e João Bosco. "Adoro criar maneiras de gravar, adoro criar arranjos para as minhas músicas".

Na conversa realizada na casa da cantora, foi recorrente o papo a respeito dos vínculos com o público e de como o seu trabalho é recebido. E como ela sabe que faz bem o que se propõe? "Eu acho que é o retorno do público, da aceitação".

O Estado: Como você vê o atual cenário da música em Curitiba?

Estão surgindo muitos artistas bons, bandas com um estilo próprio. Isso é ótimo, adoro e torço pra que surjam muito mais. Mas Curitiba está engatinhando quando se trata de aceitar nossos trabalhos. Não somente o público mas os dirigentes e programadores de rádio não se tocaram ainda que podemos fazer milagres. A grande ligação do artista com o público são as rádios. Pra continuar a arte é preciso ter um retorno e pra isso precisamos ser ouvidos. Às vezes me sinto como se estivesse numa esteira: sempre em frente e em forma mas não sei pra onde e nem pra quê. Já escutei algumas faixas do meu CD em rádio de Curitiba que tem a programação de São Paulo.

O Estado: Onde você localiza o seu trabalho no panorama contemporâneo da música brasileira?

Acredito que meus CDs carregam uma intenção singela que é fazer o que é verdadeiro pra mim. Eu o localizaria como atemporal. Claro que me preocupo com a modernidade musical, mas confesso que em alguns casos tento é fugir de estereótipos.

O Estado: Você tem uma parceria com Alice Ruiz há algum tempo. Como aconteceu esse encontro?

Aconteceu quase que por acaso. Fizemos uma oficina de música juntas e foi admiração a primeira vista. Não nos desgrudamos mais. Ora faço show com ela ora ela me empresta suas canções. Agora temos até parceria de letra e música. Essa intenção de gravar as parcerias de Alice foi uma idéia que ela teve há muitos anos atrás e que eu me apressei em viabilizar.

O Estado: Como é o seu processo de elaboração de um disco?

O Acorda veio de um show que apresentei em 1998 no Paiol, Com a corda, todas, e que reuni algumas canções que "guardei" por muito tempo como Cartão postal, de Rita Lee e Nada mais que a paixão, de Egberto Gismonti. Juntei isso com a pesquisa de repertório dos amigos daqui de Curitiba. Claro que o Acorda teve uma intenção sonora muito bem pensada pois foi todo gravado por instrumentos de cordas. Baseei esse show de 1998 na sonoridade do grupo D'Alma, dos anos 80. Já No país de Alice deixei o meu produtor musical Celso Fonseca direcionar o trabalho. Escolhi as musicas e os músicos e fui orientando como gostaria de cantá-las. Foi um CD feito pra cantora, digamos assim. É muito bem executado e muitos músicos podem se adaptar. Ao contrário do primeiro que era difícil substituir quem gravou o disco.

O Estado: Como encara o seu lado compositora?

Ainda não me sinto compositora. Já fiz algumas músicas mas é como se eu fosse uma publicitária dentro do meio musical. Não passo o dia criando musicas, quando tenho uma letra eu faço. E me empenho muito, muito mesmo. Tanto que demoro pra me convencer de que está pronta. Mas eu precisava disso pois gosto muito de criar. Agora virou necessidade.

O Estado: Que tipo de preparo você faz antes de um show?

O preparo começa muito antes do show, digo, alguns meses. A saúde é fundamental. Gripe, nem pensar! Durante os ensaios preparo minha intenção vocal e corporal pra cada canção. Procuro manter uma série de vocalizes durante os dias que antecedem e procuro dormir bem. A ansiedade atrapalha bastante. Horas antes do show tento deixar tudo em ordem no palco e fico bastante tempo pra me acostumar com o "ambiente". Faço vocalizes pra aquecer, faço piadas e dou muita risada pra espairecer e sentir que estou em casa.

por PAULA MELECH
foto DANIEL CARON
originalmente publicado no jornal O Estado do Paraná.

terça-feira, 11 de maio de 2010

A METAMORFOSE DE OTTO


Quando Franz Kafka escreveu a saga de Gregor Samsa, que acordou em uma manhã e descobriu que havia se transformado em barata, na certa não imaginava que o personagem do livro Metamorfose fosse servir de inspiração para um músico quase 100 anos depois. A história que retrata o desespero do homem perante o absurdo do mundo foi a motivação para a escolha do título do último CD de Otto, Certa manhã acordei de sonhos intranquilos.

“Confiei na minha intuição e admiração. Sabia que ele resolveria estes meus questionamentos contemporâneos”. Otto transfere a Kafka a responsabilidade de ter sido um encorajador para as bases intelectuais de sua criação, no caso deste disco. “Kafka é simplesmente um mestre fantástico!”. O lançamento do álbum em Curitiba acontece nesta sexta-feira, no John Bull Music Hall.

Depois de lançar três álbuns na carreira solo, Samba pra burro (1998), Condom black (2001) e Sem gravidade (2004), o disco foi lançado de forma alternativa depois de um intervalo de seis anos longe dos estúdios.

Certa manhã...
marca a volta de um músico que acumulou experiências e observou criteriosamente a vida e o seu lugar no mundo. “É uma soma de tudo que já vivi, acho que um artista é uma espécie de espelho do homem. Chora e ri demasiadamente. Sinto copiosamente e transcrevo em música”.

Otto compartilha o trabalho com músicos de sua banda, como Catatau e Pupillo e divide os vocais em parcerias com Lirinha (Meu mundo dança), Céu (O leite) e Julieta Venegas (Lágrimas negras, Saudade). O músico pernambucano busca uma sonoridade contrastante, onde gêneros tradicionais brasileiros, como o samba e a bossa nova se mesclam à música eletrônica, hip-hop, rock e soul.

As novas criações sonoras de Certa manhã acordei de sonhos intranquilos aconteceram naturalmente na trajetória de Otto, somadas com a experiência acumulada desde quando era integrante do Mundo Livre S/A e da Nação Zumbi, onde conduzia a seleção rítmica.. “Humildade.Trago humildade. Aprendi com o Mundo Livre e a Nação Zumbi...Humildade para fazer o meu”.

Serviço:

Otto faz show de lançamento do CD Certa manhã acordei de sonhos intranquilos. Nesta sexta-feira, às 23h, no John Bull Music Hall (Engenheiros Rebouças, 1645 - Rebouças). Ingressos: Lote promocional a R$ 20,00.

por PAULA MELECH
originalmente publicado no jornal O Estado do Paraná.

domingo, 9 de maio de 2010

O teatro íntimo de Márcio Abreu


A não-rotina é uma vivência corriqueira para o diretor, ator e dramaturgo Marcio Abreu. No intervalo de uma semana entre o final da temporada da peça Vida - sobre a obra do poeta Paulo Leminski - em Curitiba e a estreia no Rio de Janeiro, ele aproveita para fazer uma viagem a Buenos Aires. Visita um casal de amigos enquanto retoma contatos de trabalho. A vida dele é assim.

No entremeio de tudo, marcamos a entrevista via Skype: assim a sensação é de proximidade, mesmo com léguas de distância. Marcio tem uma relação especial com a capital argentina e já estava com saudades, fazia quatro anos que não caminhava pelas calles porteñas.

À frente da Companhia Brasileira de Teatro, ele enxerga arte em todas as coisas. E isso é orgânico nele. Ainda pequeno, morando no Rio de Janeiro - sua cidade natal - e estimulado pelos pais, Marcio já era ligado ao teatro. Ele ainda lembra a primeira vez que viu uma peça adulta. "Não lembro o título, mas era com o Paulo Autran".

A vida não poderia lhe reservar outra direção: depois de participar de grupos de teatro na escola, o adolescente de 15 anos rumou para Curitiba, onde experimentou o início do que se viria a ser uma carreira reconhecida nacionalmente.

Mesmo sem ter planos de trabalhar profissionalmente com o teatro, os caminhos o conduziram para o Lusco Fusco, grupo de teatro ligado ao Sesc da Esquina criado por Luiz Carlos Teixeira. A formação se desdobrou em uma imersão na pesquisa teatral que se refletiria em seus trabalhos posteriores.

A mudança de endereço para uma cidade "menos solar" também revelou o mundo subterrâneo da cultura underground que prevaleceu em Curitiba nos anos 80 e 90. "Quando mudei encontrei na cidade alguma coisa que me fez gostar muito. Isso foi importante na minha formação".

Formação que foi delineada a partir de referências como o diretor Raul Cruz e a primeira peça que assistiu aqui, Grato Maria Bueno. O escritor e poeta Paulo Leminski foi outra paixão que se somou a um dos interesses mais orgânicos de Marcio: a ligação do teatro com a literatura.

Leitor assíduo, a relação entre as duas vertentes artísticas influencia o seu trabalho até hoje na Companhia Brasileira, onde desenvolve processos criativos também em intercâmbio com artistas do Brasil e de outros países, especialmente a França.

As parcerias culminaram em outros importantes trabalhos como ator em A vida é cheia de som e fúria, co-produçao com a Sutil Cia de Teatro e na dramaturgia e direção em Daqui a duzentos anos, com textos de Anton Tchekhov, com Luis Melo e ACT (Ateliê de Criação Teatral).

Marcio reconstruiu a memória dos lugares por onde passou e falou sobre as descobertas que fez no decorrer de seus dias. A última foi a obra ensaística de Leminski, o Catatau. "É realmente um delírio magnífico de linguagem".

O Estado - Como você se localiza no cenário teatral contemporâneo?

Marcio - Pergunta difícil. Eu não me localizo, apenas faço o meu trabalho. Mas certamente há os que me vinculam a um tipo de pensamento. Venho de uma larga experiência de teatro de grupo.

Transito entre linguagens distintas porém complementares. Meu trabalho dialoga muitas vezes com a literatura, o cinema, as artes visuais. A dramaturgia é um aspecto fundamental na minha pesquisa e é pra onde se voltam minhas maiores inquietações artísticas.

Tenho como centro o trabalho contínuo com a companhia brasileira de teatro, que fundei em 2000 e que me permite parcerias com diversos artistas de várias áreas e lugares. O deslocamento é uma realidade constante.

O Estado - Como foi o encontro com Nadja Naira e Giovana Soar que culminou na criação da Companhia Brasileira?

Marcio -Na verdade eu já havia criado a companhia antes delas. A Nadja chegou em 2001 pra fazer parte do processo de criação do Volta ao dia... como iluminadora.

A Giovana veio também na época do Volta ao dia... e ingressou inicialmente como produtora. Cada uma, a sua maneira, foi conquistando um espaço e contribuindo decisivamente para a consolidação da companhia brasileira.

São parceiras de vida e desenvolvem atividades diversas. A Nadja além de iluminadora é atriz e também diretora. A Giovana é também atriz e diretora. Pensamos juntos a continuidade do trabalho. Sou muito feliz por contar com elas.

O Estado - Qual a atuação de cada artista dentro da companhia?

Marcio -Como disse, pensamos juntos os trabalhos. Eu tenho uma função mais ligada à direção e dramaturgia. A Gio e a Nadja colaboram na dramaturgia e também criam trabalhos como diretoras.

Fizeram juntas no ano passado a peca A viagem. Somos um núcleo de três pessoas. Além de nós a Cássia, que é a produtora executiva, mas que também é atriz e já fez leituras conosco e a Lica, que cuida da parte financeira e administrativa.

Temos ainda atores como o Ranieri Gonzales e o Rodrigo Ferrarini, que são participantes da companhia e estão no elenco de algumas peças do repertório. São colaboradores maravilhosos.

O Estado - Como acontece o processo de criação dos textos?

Marcio -Quando trabalhamos com dramaturgia original, os processos mudam a cada trabalho. No mais recente, Vida, trabalhamos a partir da obra do Paulo Leminski, numa pesquisa que durou cerca de um ano e meio e culminou num texto inédito escrito por mim em duas etapas: uma paralelamente ao trabalho com os atores e outra sozinho, num período de interrupção propositada do processo.

O Estado - Como acontecem as parcerias com outros artistas?

Marcio -Geralmente os encontros artísticos se dão por afinidades. Temos várias parecerias dessa natureza, com muitos artistas, brasileiros e estrangeiros. Algumas parcerias são mais consolidadas e continuadas, como com a Compagnie Jakart&Mugiscué, de Paris, com a qual já realizamos três projetos, no Brasil e na França.

Além disso há as parecerias com o Grupo Espanca de Belo Horizonte, com a Casa da Ribeira em Natal, com artistas como o ator Luis Melo, o cartunista Solda, a artista visual Margit Leisner, a atriz, jornalista e escritora Bianca Ramoneda, enfim, muitas trocas que confirmam nossa vocação de diálogos criativos.

O Estado - Quais os próximos planos para a peça Vida depois do sucesso da temporada em Curitiba?

Marcio -Certamente a peça entrará em repertório. Temos temporadas programadas no Rio, no interior do Paraná e também em São Paulo.

O Estado - Que artistas você admira e que influenciam no seu trabalho?

Marcio -Os atores com quem tenho trabalhado ultimamente. Os colaboradores da companhia brasileira. O dramaturgo russo Ivan Viripaev, o diretor polonês Krzystof Warlikowski, o poeta português Gonçalo M. Tavares, e por aí vai.

por PAULA MELECH
matéria originalmente publicada no jornal O Estado do Paraná.

domingo, 2 de maio de 2010

O batuque do pandeiro de Vina Lacerda


Instrumentos de percussão dividem o espaço com livros, CDs e uma coleção de bonequinhos músicos no estúdio de gravação de Vina Lacerda. No meio de tudo, um objeto chama a atenção: lembra a forma de uma abóbora, grande e arredondada. "É um checo. Ganhei na viagem que fiz ao Peru". Vina acabou de chegar do país onde participou do III Festival Internacional de Cajón Peruano.

Todos os sons lhe interessam. O efeito que o batuque provoca e a forte ligação com os ritmos brasileiros o levaram a encarar a música sob um ponto de vista global. O músico se afina não somente em tirar som dos instrumentos, mas a estudá-los minuciosamente, explorando toda a diversidade musical brasileira.

Influenciado pelo pai e encorajado pelo irmão Vadeco - também músico - Vina começou a sua carreira repentinamente. Foi em uma manhã que ele acordou com a vontade súbita de tocar um instrumento. Deste dia em diante tudo mudou e a música ocupou um lugar que até o momento estava vazio.

O trabalho considerado mais inovador foi experimentado na banda Vadeco e os Astronautas, que começou com um power trio formado por Vina, Vadeco e Luciano Cordoni. A forte influência aqui foi o disco Olho de peixe, de Lenine e Marcos Suzano, uma das obras de referência da década de 90 na música popular brasileira.

Vina se interessa especialmente pelas possibilidades do pandeiro, que representa mais significativamente a música brasileira.

Foi quando a inclinação se solidificou em um trabalho teórico sobre o instrumento que resultou em dois livros: o Pandeirada brasileira e Pandeirada brasileira versão pocket, um método de percussão sobre o estudo da técnica de execução do pandeiro.

Paralelamente, o músico segue como integrante da Orquestra à Base de Cordas e participa como músico de estúdio selando parcerias com vários artistas da cidade, como Alexandre França e Rogério Gulin.

A conversa com o percussionista e pesquisador aconteceu no estúdio do músico, no bairro Hugo Lange, em Curitiba.

O Estado do Paraná - O que te levou para a música?

Vina Lacerda - Comecei a estudar música um pouco tarde, aos 16 anos. Acordei um certo dia e perguntei ao meu irmão: "Gostaria de tocar um instrumento, o que você recomenda?" Ele me indicou a percussão.

Na mesma semana comprei um bongô e um vídeo aula de percussão. Aprendi algumas ritmos básicos e fui acompanhar meu pai, músico amador responsável por boa parte da minha educação musical informal. Passei toda minha infância nas rodas de samba comandadas por seu Valdemar (meu pai), escutando o melhor da música brasileira. Tendo dentro de casa pai e irmão músicos, toda a informação musical que recebi fez brotar em mim o desejo de me tornar músico.

OE - O que você acha que a música brasileira tem de especial?

LV - Somos detentores de um estilo único, a música brasileira é querida em todo o mundo e conquistou um espaço muito importante na musica mundial. De norte a sul do País a variedade de gêneros e estilos é infinita. A miscigenação do povo brasileiro é o um dos pontos mais positivos. O ponto negativo é que grande parte dos brasileiros desconhecem o patrimônio cultural de suas regiões e só consomem a música comercial de baixa qualidade. Precisamos nos atentar a isso, para que não se consuma música brasileira de entretenimento.

OE - Além de músico, você também é um pesquisador. Em que momento você enveredou por esse caminho?

LV - Quando comecei a buscar material didático para meus estudos, descobri a grande lacuna que existe na produção de materiais destinados ao estudo da musica e da percussão brasileira.

O caminho foi natural, investi em minhas pesquisas e acabei editando dois livros sobre o pandeiro brasileiro. O Pandeirada brasileira é um dos mais completos trabalhos já publicados relacionados ao pandeiro brasileiro.

OE - Como está sendo a repercussão no Brasil e no exterior?

LV - Durante as últimas décadas o pandeiro brasileiro ganhou praticantes em todo o mundo. Considerado uma bateria de mão portátil e versátil, vem ganhando espaço também na música feita pelo mundo. Toda essa procura pelo instrumento trouxe junto a busca de ferramentas que auxiliem o aprendizado do instrumento.

O Pandeirada brasileira entrou aí, bem completo e com uma proposta de ensino que segue o formato play-along das publicações da editora americana Jamey Aebersold, foi elogiado por professores e estudantes de música em todo o mundo.

Presente em mais de 15 países o material teve sua primeira publicação esgotada. Reorganizei o material e lancei uma compilação intitulada Pandeirada brasileira pocket edition, mais sucinto, destinado a estudantes iniciantes e intermediários.

OE - O que mais te interessa nos instrumentos de percussão?

LV - A diversidade de instrumentos e a simplicidade de alguns deles. Seu papel dentro das cerimônias e festividades nas diversas culturas do mundo. O efeito que o "batuque" trás ao ser humano. Quando o Ocidente descobriu a percussão do Oriente a música se transformou, ganhou uma nova alma, mais viva, colorida e provocante.

OE - Você se lembra da primeira vez que teve contato com um pandeiro?

LV - Sim, estava tendo aulas com meu querido amigo e mestre Coelho. Foi meu primeiro professor. Nunca esqueço o dia que fomos comprar juntos meu primeiro pandeiro, tenho ele até hoje.

OE - Você teve um mestre?

LV - Tenho vários. Sou extremamente observador. Gosto de ver os músicos tocarem. Assim se consolidou boa parte de meu aprendizado. Cada dia descubro um novo mestre. Adoro músicos que conseguem colocar identidade em seus trabalhos.

OE - No seu processo criativo, você parte de uma imagem para buscar o som acontece o contrário?

LV - Para mim as duas formas são sempre presentes. Na música a inspiração pode vir de várias maneiras. Quero que minha música seja cada vez mais ligada a sensações também visuais.

OE - Quais os seus próximos projetos?

LV - Estou organizando um novo material sobre percussão brasileira e ensaiando um futuro show solo. Ainda sem pressa e datas para lançar, me dedico agora aos projetos locais e divulgar o Pandeirada brasileira pelo mundo.

por PAULA MELECH
foto DANIEL CARON
publicado originalmente no jornal O Estado do Paraná.