segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O cinema do futuro


Um dos maiores desafios do cinema nos dias de hoje é a transição da película para o suporte digital. A transformação não se resume à substituição de todo o aparato de projeção do circuito exibidor, mas se estende também à captação, e à distribuição - um dos fatores mais beneficiado com as mudanças. Mesmo com essa revolução no modo de fazer e de se assistir filmes, o assunto ainda carece de um debate mais aprofundado. O projeto Masterclass de Cinematografia Digital - que acontece essa semana - trará grandes nomes do mercado cinematográfico ao Teatro da Caixa para discutir como essa revolução vai influenciar os rumos do audiovisual.

O interesse é em tirar o tema do papel e promover um espaço onde o aprendizado e a troca de experiências são a tônica. As aulas serão ministradas por Carlos Ebert, Marlon Klug, Bruno Ravagnolli e Fernando Lui Latorre e o encerramento terá um debate sobre inovações tecnológicas na produção e distribuição audiovisual com participação especial do sócio-fundador e criador da Rain Network e da MovieMobz, Fabio Lima. A mediação será do documentarista e pesquisador Eduardo Baggio.

A distribuição é a questão

A transição digital no Brasil traz inúmeras vantagens, talvez a mais impactante em um primeiro momento seja o baixo custo de distribuição e a consequente democratização da exibição. Quando pensamos em filmes nacionais independentes fica fácil perceber que os valores inviabilizam qualquer possibilidade de exibição: uma cópia em película de um longa-metragem de 1h40 de duração custa cerca de R$ 6 mil. Para um lançamento médio, que inclui a exibição em mais ou menos 50 salas, seria necessário desembolsar nada menos que R$ 300 mil, valor impraticável para as produções com baixo orçamento - que somam a maioria no País.

Com a distribuição de dados em formato digital todo esse processo torna-se desnecessário, reduzindo drasticamente os custos de distribuição e levando os filmes para mais salas de exibição. Tais mudanças contribuem para uma maior valorização do cinema independente, aumentando as possibilidades de inserção de novos realizadores no mercado profissional. “A digitalização é o que existe para se pensar em um cinema possível, é a base para se ter condição de uma cinematografia mais democrática”, opina Eduardo Baggio.

O documentarista acredita que o digital possibilita uma melhora na relação entre produção e exibição: hoje, do total de longas-metragens produzidos no País, apenas metade chega às salas de cinema. “A gente produz mais do que distribuí. O descompasso está aí. Claro que há outras questões envolvidas nesse processo, mas inicialmente o problema é fazer os filmes chegarem às salas”.

Entretanto, a distribuição é uma questão ainda pendente, já que a grande maioria das salas ainda não está equipada com projetores digitais. “Ainda não demos esse passo por falta de investimento”, reconhece o fotógrafo e operador de câmera Bruno Ravagnolli, o “Coroinha”, que completa: “Mas em pouco espaço de tempo vamos caminhar para isso. Acredito que em menos de dez anos 60% a 80% das salas devem ser digitais”. Para ele - que virá a Curitiba falar sobre tecnologia de captação - a tendência de crescimento dos filmes 3D pode pressionar os exibidores a investirem no digital.

Uma boa imagem

A projeção em digital é um ponto que ainda gera polêmica entre cineastas, cinéfilos e estudiosos da sétima arte. Para alguns nada substitui a aura da película, mas para outros há um certo saudosismo em rechaçar essa nova possibilidade. Uma das vantagens do digital é que a imagem não perde qualidade conforme o filme vai sendo exibido, ou seja, a nitidez de um filme feito em 2007 e exibido em 2057 deverá ser a mesma. Já a qualidade do filme em película vai se desgastando conforme a quantidade de exibições.

Mas, na prática, qual será o resultado para o público? “O método da película ainda é superior, mas vivemos um momento que está chegando muito próximo do que é a película”, diz Ravagnolli. Baggio atenta para o fato de ainda existirem diferenças estéticas entre salas com aparato digital e analógico. “Isso acontece também porque, para baratear os custos, muitos exibidores optam por projetores de baixa qualidade. Aí a imagem fica pior em digital”.

Mas com todos os pontos favoráveis ou contrários, a certeza é que o cinema muda no quesito tecnológico e não nas questões primordiais do cinema, ao contrário, gera novas possibilidades criativas só possíveis com o digital. Talvez o principal seja baratear custos e gerar mais oportunidades para a democratização do audiovisual e, como defende Ravagnolli “ajudar na educação e na cultura do País”.

Serviço

Masterclass de Cinematografia Digital. De 16 a 18 de novembro, no Teatro da Caixa (Rua Conselheiro Laurindo, 280, Centro, Curitiba). Horários: terça a quinta, 15h e 19h. Ingressos: R$10. Bilheteria: (41) 2118-5111 (de terça a sexta, das 12 às 19h, sábado e domingo, das 16 às 19h) www.caixa.gov.br/caixacultural.

publicado originalmente no jornal O Estado do Paraná.

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