quarta-feira, 26 de maio de 2010

Mínimo-Múltiplo-Comum


Um verso de Fliperama, música lançada em 1992 no álbum The hips of tradition, sugeriu o título do novo trabalho de Tom Zé, O pirulito da ciência. Gravado em CD e DVD pela Biscoito Fino, o disco é a súmula da carreira de um dos mais inovadores músicos brasileiros, considerado o “pai da invenção” pela revista americana Rolling Stone.

“Está frio aí em Curitiba?” pergunta Tom Zé logo que pega o gancho do outro lado da linha para a entrevista. Sim. Mas a noite gelada certamente vai ficar do lado de fora do Teatro da Caixa durante o show, que será apresentado amanhã, sábado e domingo.

Se tratando de Tom Zé, mesmo o resgate do passado pode parecer a concepção de uma obra inédita. O pirulito da ciência, gravado ao vivo em São Paulo no ano passado com direção de Charles Gavin (ex-Titãs), retoma mais de 40 anos de música, que cobre sua produção de 1968 (São São Paulo meu amor) a 2008 (João nos tribunais).

Acompanhado da banda formada por Lauro Léllis na bateria, Cristina Carneiro no teclado, Daniel Maia na guitarra, Renato Léllis no baixo, Jarbas Maria na percussão e a vocalista Luanda, o show retrata as canções que se popularizaram, além daquelas que marcam suas decisões de percurso e escolhas estéticas.

Inicialmente “com um pé atrás”, Tom acabou topando com carinho a ideia de um trabalho que sintetizasse a sua obra. A proposta partiu do ex-baterista do Titãs, que pré-selecionou 50 músicas para depois, em conjunto com Tom Zé, chegar a 25 canções, gravadas no DVD. No CD, mais enxuto, as 16 faixas mantém os diálogos gravados ao vivo durante o show. O resultado é uma boa síntese da criação.

No palco, a cenografia propositalmente caótica assinada por Laura Andreatto se harmoniza com o figurino performático. Tom Zé usa macacões, saias e Parangolés - espécie de capa que só mostra plenamente suas cores, formas e texturas a partir dos movimentos de quem o veste. O Parangolé, criação de Hélio Oiticica, sintetiza a estética da performance: uma pintura viva e ambulante, uma escultura móvel.

O músico, que completa 74 anos em outubro, sabe da importância da imagem que a música adquire no palco e de como atua no processo global de sua obra. “O meu trabalho não termina na canção, mas no palco que é a representação dela. Gosto de terminar o show antes da plateia cansar, manter a dosagem com o espírito de divertimento ainda presente”.

Percurso


Tom Zé é formado pela Universidade de Música da Bahia, onde começou a experimentação musical, mesclando a música erudita e de vanguarda ao regional e popular, além de incluir sons inusitados como liquidificadores e máquinas de escrever em suas canções.

Com Caetano Veloso e Gilberto Gil, ajudou a criar o movimento tropicalista e caiu no ostracismo no momento em que seus companheiros assumiam a frente da música popular brasileira.

O mundo conheceu Tom por meio de David Byrne, líder do Talking Heads, que o contratou para sua gravadora, a Luaka Bop. Os discos foram um sucesso, com críticas entusiasmadas na imprensa mundial. Lá foram lançados The best of Tom Zé, The hips of tradition, Com defeito de fabricação e Post-modern platôs (Platões pós-modernos), além de remixes de canções por músicos jovens como Sean Lennon e Amon Tobin.

Serviço

Tom Zé - O pirulito da ciência. Amanhã e sábado às 21h e domingo às 19h, no Teatro da Caixa (Rua Conselheiro Laurindo, 280, Centro - Curitiba). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia -conforme legislação e clientes Caixa). Bilheteria: (41) 2118-5111 (de terça a sexta, das 12 às 19h, sábado e domingo, das 16 às 19h).

por PAULA MELECH
foto MARCELO ROSSI
publicado originalmente no jornal O Estado do Paraná.

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